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#Livrenha Eleanor & Park de Rainbow Rowell


Eleanor & Park se passa no fim da década de oitenta e nele vemos o desenrolar do relacionamento de Park, o garoto meio coreano e meio americano apaixonado por bandas de rock e quadrinhos, e Eleanor, a garota nova na cidade com grandes e revoltos cachos ruivos, roupas estranhas e alguns quilos a mais. Os dois se conhecem no ônibus escolar e partir daí testemunhamos o início do romance dos dois em meio a uma vizinhança pobre, um meio familiar conturbado e milhares de referências culturais.

Apesar de tratar de um romance adolescente, Eleanor & Park é um livro bem forte. Narrado tanto por ela quanto por ele, nós mergulhamos fundo na vida familiar dos dois e, na minha opinião, esse aspecto do livro é um dos que difere ele de um romance adolescente normal e açucarado. Enquanto a família de Park é estruturada, a de Eleanor é destruída. Ele vive com seu pai, um veterano da guerra do Vietnã, sua mãe, uma mulher coreana, e seu irmão mais novo. Apesar de passarem por alguns problemas no decorrer do livro, nenhum deles é muito grave e Park vive num ambiente majoritariamente composto de amor. Já a vida familiar de Eleanor é completamente diferente: vivendo numa casa minúscula com seus quatro irmãos mais novos, sua mãe e um padrasto abusivo, o tempo que ela passa em casa é realmente um inferno. Consideravelmente mais pobre do que a família de Park, a família de Eleanor carece de algumas das coisas mais básicas como escovas de dente e xampu e a forma como isso é narrado no livro, com uma imensa naturalidade, contribui para que o choque seja ainda maior.

Como se a situação de pobreza já não fosse ruim o suficiente, Richie, o padrasto de Eleanor, é o pior tipo de homem. Ele está constantemente transformando o ambiente em um lugar medonho, torturando todos psicologicamente com seu jeito abusivo e doentio. Mas, apesar de sentir raiva dele, ele não teve tanto espaço nos meus pensamentos, porque Richie é um tipo conhecido do qual você já sabe o que esperar. Eu fiquei muito mais intrigada com Sabrina, a mãe de Eleanor. Meus sentimentos por ela mudavam o tempo todo: eu senti raiva, pena, ódio, compaixão. Durante todo o livro eu fiquei tentando entender como uma mulher podia deixar um homem destruí-la daquele jeito.

Mesmo com todo esse background familiar, os personagens principais não perdem seu brilho. Eleanor é uma garota inteligente que consegue manter seu humor ácido apesar das condições em que vive e que ainda acha tempo para enxergar e refletir sobre o mundo ao seu redor, sem nunca se deixar cair naquele ponto comum em que tudo o que se faz é sentir pena de si mesma. E Park é o tipo de garoto que deveria existir em mais livros. Todas as suas atitudes e reações pareceram realísticas para mim e em nenhum momento ele foi o estereótipo do par romântico perfeito. Acho que dar uma parte da narração para ele contribuiu para que pudéssemos entendê-lo e nos conectar com o personagem.

Outro aspecto em que o livro se destaca é o modo como o romance dos dois foi acontecendo. Eles não se apaixonam à primeira vista, como em muitos livros, e não tem nem mesmo uma espécie de faísca ou arrepio. São simplesmente dois desconhecidos sentados lado a lado num banco de ônibus. É realmente muito legal assistir os dois começando a conversar, a se conhecer, a se tocar e a se apaixonar, tudo isso embalado pela sensação única do primeiro amor. Há uma inocência no desenvolvimento dos dois que já não existe nos dias de hoje, o que dá um toque especial ao livro.

E é claro que a ambientação também chama atenção. Como a estória se passa na década de oitenta, os personagens não contam com muitas das coisas que hoje nós jovens consideramos normais, como celular e internet. Obviamente eu não vivi naquela década então não posso falar muito sobre precisão histórica, mas, ao meu ver, todos os elementos incluídos na história foram o suficiente para que eu pudesse me sentir em outro tempo.

A única coisa que pode incomodar um pouco é o modo como Rainbow Rowell as vezes descreve as pessoas como se fossem objetos. Como neste trecho:

"Her mom looked tired when Eleanor got home. Like more tired than usual. Hard and crumbling at the edges"

Não me incomodou, mas eu entenderia se alguém reclamasse disso. De qualquer forma, é só uma coisinha em meio a milhares.

Eleanor & Park também fala de outras coisas: preconceito, bullying, a sensação de não pertencimento e de não se encaixar, entre outros assuntos comuns a maioria dos adolescentes. Mas é sobretudo uma história sobre o primeiro amor. E uma história muito bem contada com um final que fica rondando sua cabeça por dias.

Nota: 5 fitas cassetes

Música: How Soon Is Now? - The Smiths

Ps.: Tem palavrões nesse livro.Eu achei isso muito legal.

Ps2.: No final do livro eu meio que me senti como a Hazel sobre o final de Uma Aflição Imperial. Também gostaria de ter algumas respostas.

Ps3.: Rainbow é um nome muito legal.

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